Três candidatos, uma campanha acirrada, troca de acusações, denúncias de corrupção e o resultado das urnas mostraram os diversos grupos que, a cada três anos, lutam para chegar ou permanecer na presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas. Apesar do clima acirrado, da convocação de toda categoria e das três chapas que disputaram a eleição, a expectativa da Comissão Eleitoral para a presença maciça de toda a categoria na eleição não se confirmou, visto que pouco mais de 4 mil dos 7 mil advogados em atuação no estado de Alagoas marcaram presença no dia de votação. As polêmicas que vem marcando às campanhas e partidarização do pleito são fatores apontados como desestimulantes para a categoria.
A diferença da votação da candidata que ganhou, advogada Fernanda Marinela, para o segundo colocado, Fernando Falcão, foi de 156 votos. Com 1809 votos, em um universo de 4.805 mil votantes, Marinela chega à presidência da OAB a partir de janeiro de 2016 até dezembro de 2018. Na campanha, os grupos de oposição criticaram a candidata pela fato dela ser paulista e supostamente não militar na Justiça local. Após o resultado, Marinela disse ser favorável que os candidatos desarmem os palanques eleitorais para a discussão das questões relativas à OAB.
De acordo com a advogada, mesmo com as rusgas e os atritos que marcaram todo o pleito eleitoral e ganharam as páginas dos jornais em Alagoas nesta semana, é possível, sim, construir um diálogo com todos os grupos que disputaram a eleição, ressaltando, segundo ela, sempre a importância da OAB para as prerrogativas dos advogados e o papel da entidade na discussão de temas relacionados à sociedade. Em janeiro, Thiago Bonfim, atual presidente, passará o comando da OAB para sua candidata, inclusive, o atual gestor será conselheiro federal.
"Com os palcos desmontados, vamos cuidar da OAB para toda a classe. Todos nós somos um só e a Ordem é para todos. Mesmo com as situações que marcaram parte da campanha, acredito que é possível falar em união, sim, para quem pensa na instituição como valor maior e não para quem pensa com interesses pessoais. E, particularmente, eu penso como valor maior. O momento é de respeitar a nossa instituição e por ela é que nossa união vale a pena", expôs Marinela, ressaltando que os responsáveis pelas acusações feitas contra ela serão responsabilizados na Justiça.
Diante das polêmicas, o segundo colocado no pleito, advogado Fernando Falcão, destacou que o clima de guerra nas eleições da OAB é histórico, mas o fato que chama, mais uma vez, atenção é partidarização da campanha. Ele lamentou, inclusive, que durante os últimos dias antes do pleito '''factoides''' e a "vitimização" tenham pautado a reta final da caminhada. Falcão disputou o pleito ao lado de dois dos candidatos que na última campanha haviam sido derrotados pelo grupo que agora se reelegeu com a vitória de Marinela; os advogados Welton Roberto e Marcelo Brabo.
O segundo colocado na disputa pela Ordem neste ano declarou ainda que o seu grupo tinha um projeto de resgatar a autoestima do advogado. "De início, tínhamos um cenário de união em volta da Ordem, fazendo uma gestão para resgatar o advogado, protegendo-o, fazendo da OAB uma entidade forte e presente no dia a dia da classe, como também da sociedade", frisou ele.
Para o terceiro colocado na disputa, Roberto Mendes, a grande lição que fica desta eleição é o desejo para que, no próximo pleito, o nome da instituição não seja colocado mais uma vez nas páginas dos jornais com denúncias de irregularidades e acusações. Mendes acredita que a presidência que será formada em 2016 deve assumir a Ordem com objetivo de fazer uma gestão focada para classe, independente do votos dos grupos que disputaram à presidência da entidade.
"Após o resultado, é hora de passar uma borracha por cima de todos esses tristes e desgastantes fatos que, infelizmente, foram parar nas manchetes dos veículos de comunicação. E, assim, voltar a administração com um foco para toda a classe. A OAB é de todo mundo e que o nome da instituição não esteja nas páginas dos jornais no próximo pleito de forma negativa. É isso que, sinceramente, desejo depois dessa eleição", colocou Mendes.
As disputas sempre foram acirradas
De acordo com a doutora em Ciência Política e Professora da Universidade Federal de Alagoas, Luciana Santana, pelo importante papel que, historicamente, a OAB exerce na sociedade brasileira, em geral, as disputas eleitorais para o principal cargo são marcadas por alta competitividade e são influenciados pela conjuntura política no país, por conjunturas locais ou ainda, por interesses específicos da classe. "A competitividade eleitoral não pode ser visto como algo maléfico para a entidade, pois são profissionais com posicionamentos políticos e ideários conflitantes. Dificilmente há espaço para o consenso. E não seria diferente para o cargo de presidente da OAB nacional ou das OABs estaduais que significa poder de mobilizar recursos que podem influenciar decisões políticas de grande alcance e impacto na sociedade", apontou ela.
Santana analisada também o cenário mais recente da eleição em Alagoas, lembrando que, mesmo com as polêmicas, troca de acusações e denúncias, o cenário local é muito parecido com outros do Brasil. Ela acredita que o maior desafio de Marinela será unir todos os grupos. "São disputas por poder dentro da entidade, na qual, as teses mais convincentes e que seduziram o maior número de filiados foram vencedoras. E isso significa dizer que, nem sempre as teses são as majoritárias. O resultado das eleições deste ano evidencia isso. Ter oposição é necessário, positivo e contribui para a transparência de uma gestão, mas não pode ser entrave para a construção de um ambiente salutar para a tomada de decisões e desenvolvimento de ações que possam e devam ser realizadas pela OAB. Um dos desafios da chapa vencedora é buscar uma unidade que possibilite um diálogo honesto e sincero em prol do coletivo", avaliou ela.
Fonte: gazetaweb.com