Os nomes dos personagens usados aqui são fictícios. Preservá-los em meio ao preconceito que ainda se mantém bem presente na sociedade é condição para que falem à Gazeta sobre a vida que passaram a levar desde que receberam a notícia de que são soropositivos. Ou seja: estão infectados pelo temido vírus HIV. Não desenvolveram a doença, mas carregam dentro do corpo e na vida as marcas do estigma que os fazem manterem-se o mais reservados possível.
A história da faxineira Elisabete segue uma trajetória de dor e recomeço. Aos 33 anos, foi largada pelo marido, que a deixou com dois filhos para criar. Havia se mudado de Maceió para o Rio de Janeiro. Sentiu-se traída, desprezada, e passou a ter relacionamentos sexuais sem preservativo com pessoas que pouco conhecia. Estava longe de imaginar que poderia ser infectada pelo HIV.
“Não sabia nada sobre a Aids. Na época, a chamavam se ‘peste gay’. Achava que era coisa de artista, de cantor, porque foi naquela época do Cazuza. Aí, vi uma campanha que ficou na minha mente e fui fazer o exame. Tinha voltado para Maceió, onde minha família vive, e procurei o teste no PAM Salgadinho. Fiz dois exames. Não tinha o teste rápido. Tive que esperar. Os exames deram positivo. Há 11 anos não pensava do jeito que penso hoje. Não usava preservativo; estava longe de imaginar que ia pegar alguma doença. As pessoas [com quem ficou] pediam prova de amor”, ela conta.
Mãe de dois filhos – hoje com 21 anos e outra com 18 –, Elisabete diz que, ao saber que estava infectada com o HIV, o primeiro sentimento foi achar que iria morrer em menos de seis meses. “Fiquei mais de um ano assim. Achava que não ia ver meus filhos crescerem. Não conseguia falar para ninguém, mas chegou a um ponto que precisava falar. Contei à minha mãe e à minha irmã, que me apoiam até hoje. Meus filhos também sabem e são minha força de viver. Graças a esse apoio, voltei a estudar e ver a vida de outra forma. Dei a volta por cima e estou concluindo a EJA [Educação de Jovens e Adultos]. Pretendo continuar estudando. Sonho entrar na faculdade de Serviço Social”, confessa Elisabete, que não sabe quem a infectou.
No dia que conversou com a Gazeta, ela estava indo ao PAM Salgadinho para uma consulta médica. Disse que começou a sentir dores no corpo todo. “Na medida do possível, vivo bem. Mas tem dia que só Jesus! Tomo três medicamentos e sinto os efeitos. Náusea, dores no corpo. Onde tiver massa muscular, o remédio causa hipodristrofia. Meu glúteo diminuiu muito. As pernas e braços estão afinando e começo a ter dores. É horrível”, descreve Elisabete, que hoje está com 45 anos e trabalha como faxineira.
Gazeta de Alagoas