Alagoas tem 10 mil famílias à espera da reforma agrária

Criado em julho de 1970, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) é olhado com desconfiança por mais de 200 mil famílias de trabalhadores rurais sem terra que vivem acampados pelo País, 10 mil deles em Alagoas. Os sem-terra ocuparam áreas nas margens das estradas, das fazendas em litígio com o governo federal, vivem em barracos sem água tratada, sem banheiro, sem escolas. Desde que tiveram as casas das agrovilas derrubadas pelos latifundiários e fazendeiros, as famílias sonham com a reforma agrária.

Em Alagoas, as agrovilas foram destruídas na década de 1990. Mais de 100 mil famílias saíram do campo. A maioria foi morar nas favelas das grandes cidades. Naquela época, o Incra prometia assentar 50 mil famílias cadastradas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Estado. Dessa meta, só foram assentadas 13 mil famílias.

Parte das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) fundou outros grupos que lutam também pela reforma agrária e tentam “segurar” os acampados nas áreas ocupadas.

Hoje, oito movimentos de sem-terra (MST, Via do Trabalho, MLT, MTL, MLST, Terra Livre, MUPT e CPT) atuam no Estado com o mesmo objetivo: forçar os governos federal e estadual a fazer reforma agrária nas terras dos usineiros e latifundiários falidos para acabar com os acampamentos e transformar áreas historicamente dominadas pela monocultura da cana-de-açúcar em polos de produção da agricultura familiar.

Os pequenos produtores rurais, como Milton Anselmo de Souza, 67 anos, 4 filhos, 15 netos e 20 bisnetos, ao lado da mulher Maria Lúcia dos Santos, 60 anos, têm o mesmo sonho das outras 190 famílias do Acampamento Filhos da Terra, nas margens da BR-101, zona rural do município de Messias. Eles querem as terras da reforma agrária. O casal e a maioria dos vizinhos acampados moraram em agrovilas derrubadas pelos tratores das usinas de Capela e de Rio Largo. Sem alternativa, há 10 anos eles passaram a viver nos acampamentos e sob a bandeira do MST.

Num pequeno pedaço de terra na beira da estrada, Milton mantém a pequena criação de galinhas, de peixe tilápia, planta macaxeira, inhame, feijão e outras culturas de subsistência. A família do sem-terra não passa fome, mas as condições de vida são precárias e parte dos filhos não estuda. Milton é analfabeto e não sabe qual é o valor do salário mínimo (R$ 880), mas não perdeu a esperança. “Homem, eu tenho fé em Deus que um dia vou ter a minha terrinha, uma casa boa e vou sair dessa situação. A reforma agrária um dia sai. Vocês vão ver”, acreditam Milton e a mulher dele.

Gazeta de Alagoas