Assinado em 2008, o Novo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa entrou em vigor no dia 1º de janeiro. Após seis anos de transição, ainda há inúmeras dúvidas sobre as mudanças. Agora, o uso das novas regras é obrigatório nas provas para concursos, vestibulares, Enem e documentos oficiais.
Entre as alterações, o alfabeto passa a ter 26 letras. O k, w e y voltam ao alfabeto oficial. Segundo o acordo, é um contra-senso haver nomes próprios e abreviaturas com letras que não estavam no alfabeto oficial (caso de kg e km).
Além disso, são letras usadas pelo português para nomes indígenas - as línguas indígenas são ágrafas, mas os linguistas estudiosos desses idiomas assim convencionaram. Na prática: nenhuma palavra passa a ser escrita com essas letras - "quilo" não passa a ser "kilo" - por serem "pouco produtivas" ao português.
Os estudantes afirmam que é muito mais fácil compreender as mudanças na fonética do que na grafia das palavras. Para quem está nas salas de aula, até que as mudanças não são completamente desconhecidas. O uso das regras era facultativo desde 2013. Victor Lucas, estudante de Direito, está concluindo a graduação e já está se preparando para os concursos públicos.
"Quando soube da mudança da ortografia, procurei me informar e ficar atualizado sobre as mudanças. Não diria que as alterações são difíceis de entender, mas são difíceis de se adaptar ou se acostumar. Cito como exemplo, identificar quais palavras deixam de receber acentuação ou em quais casos será mantido ou retirado o hífen", disse o estudante Victor Lucas.
As dúvidas mais comuns são quanto à acentuação. O acento circunflexo foi retirado de palavras terminadas em "êem", como nas formas verbais creem, veem, leem e em substantivos como enjoo e voo. Já o acento agudo foi eliminado nos ditongos abertos "ei" e "oi" (antes "éi" e "ói"), dando nova grafia a palavras como colmeia e jiboia. De acordo com as novas regras, os acentos diferenciais também deixaram de existir, eliminando a diferença gráfica entre pára (do verbo parar) e para (preposição), por exemplo. Há exceções como as palavras pôr (verbo) e por (preposição) e pode (presente do indicativo do verbo poder) e pôde (pretérito do indicativo do verbo poder), que tiveram os acentos diferenciais mantidos.
O uso do hífen também tem alterações. Ele deixou de ser usado em dois casos: quando a segunda parte da palavra começar com s ou r (contra-regra passou a ser contrarregra), com exceção de quando o prefixo terminar em r (super-resistente), e quando a primeira parte da palavra termina com vogal e a segunda parte começa com vogal (auto-estrada passou a ser autoestrada).
E para quem está longe das salas de aula, compreender as novas regras do Novo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa é ainda mais difícil. Fora das salas de aula desde 1989, Valdilene Bezerra critica as muitas regras e exceções."A mudança em si, seja ela qual for, não é fácil. Pra mim, o português é complicado por natureza. Modificaram acentos, mudaram palavras que eram de fácil entendimento e permitiram uma grande confusão em alguns casos".
Entre as exceções estão as palavras "pé-de-meia", escrita com hífen, e "pé de moleque", grafada sem hífen. Outro exemplo é o trema. Ele foi eliminado, e pode ser usado apenas em nomes próprios. Mas a mudança vale apenas para a escrita, as pronúncias de palavras como linguiça, cinquenta e tranquilo continuam com a mesma.
E como memorizar tantas mudanças?
Estudantes utilizam as redes sociais para atualizar
FOTO: REPRODUÇÃO
A jovem Bianca Almeida, que está se preparando para o Enem 2016, participa de comunidades sobre a língua portuguesa no Facebook para se atualizar sobre as novas regras do acordo ortográfico. "Costumo ler muito. Além das redes sociais, sempre que tenho alguma dúvida recorro a meu professor de português".
"Não tenho técnica para estudar ou memorizar, aprendi a utilizá-las naturalmente. Difícil não é aprender, é se acostumar. Não digo que sei utilizar todas as formas, mas acredito que boa parte consigo identificar".
O Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa
O acordo ortográfico foi assinado em 1990 entre Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Em 2004, após tornar-se independente, o Timor-Leste aderiu ao acordo.
Cada país definiu os prazos, após ratificar o documento assinado, para a entrada em vigor do novo acordo. Em Portugal, a reforma foi ratificada e promulgada em 2008 e as novas regras entraram em vigor em maio de 2009, com a previsão de se tornarem obrigatórias em seis anos a partir dessa data.
No Brasil, o acordo foi ratificado em setembro de 2008. As medidas seriam aplicadas de modo obrigatório a partir de janeiro de 2013, mas o governo brasileiro, após consultas a envolvidos no processo, preferiu adiar a implantação.
Aplicativo para consulta
A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou um aplicativo gratuito de consulta a ortografia chamado "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp)". Com ele, é possível ter acesso em smartphones e tablets aos quase 400 mil verbetes que já seguem as novas regras previstas no Acordo Ortográfico. É uma solução rápida para tirar dúvidas de como se escreve alguma palavra.
O aplicativo pode ser baixado em dispositivos Android e IOs. Um dos recursos do aplicativo é o de autocompletar-se. Quando a pessoa começa a digitar uma palavra, automaticamente aparece uma listagem de possíveis resultados na tela e o usuário poderá encontrar a exibição do vocábulo antes mesmo de terminar a redação de tal termo. É possível também aumentar a letra, para facilitar a leitura.
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