O que você faria se soubesse que sua filha poderia estar com microcefalia e, após os exames, a suspeita ser descartada? Certamente, um alívio para os pais. AGazetaweb conversou com uma família que mora no município de Coruripe e viveu o drama com a pequena Ester da Silva Santos, de apenas um mês e oito dias.
O pai, José Thiago dos Santos, veio de São Paulo com a esposa e, aqui em Alagoas, descobriu que ela estava grávida já de cinco meses. O exame de ultrassom foi feito, mas nenhuma suspeita havia sido levantada.
Thiago relatou que, quando a criança nasceu, o médico disse que o diâmetro da cabeça media 32 centímetros e fez o alerta aos pais, levando em conta que o tamanho normal é de 33 centímetros. A partir daí, o exame de tomografia foi feito no Hospital Geral do Estado (HGE), no final do ano passado, e a surpresa veio à tona.
"Quando a médica alertou para a possibilidade de minha filha estar com a doença, ficamos aperreados, minha esposa nervosa e não sabíamos o que fazer. Estávamos sem chão. Inclusive, quando entramos no hospital com a criança, todo mundo nos corredores dizia que ela tinha microcefalia, mas nem o exame tinha sido feito ainda. A revolta só aumentava. O resultado saiu e tudo foi descartado", comentou o pai da bebê.
Questionado sobre a possibilidade de a filha ter microcefalia, Thiago falou que "jamais abandonaria Ester e enfrentaria a batalha". "Com certeza, a gente iria encarar tudo, mas, graças a Deus, voltamos para a médica da cidade, que nos tranquilizou. Ester é perfeita e vai ter uma vida saudável e alegre. Ainda bem que não tivemos problemas em relação à Saúde, porque a gente sabe que o SUS [Sistema Único de Saúde] é penoso", reforçou o pai.
Casos suspeitos
Mãe segura bebê ao lado de médica e enfermeira
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Por outro lado, a assessoria da Sesau esclarece que nenhum caso suspeito foi descartado nem confirmado, mas informa que, até o momento, há 142 casos suspeitos, sendo 133 diagnosticados em recém-nascidos, seis intrauterinos e mais três anteriores aos parâmetros do Ministério da Saúde (MS). Os dados são do Registro de Eventos de Saúde Pública referente às microcefalias (RESP-microcefalias) e das notificações recebidas pelo Centro de Informação Estratégica em Vigilância em Saúde de Alagoas (Cievs/AL).
Os casos suspeitos de microcefalia concentram-se em Maceió (46), Santana do Ipanema (35), Palmeira dos Índios (16), Penedo (9), Arapiraca (12), Delmiro Gouveia (5), União dos Palmares (4), São Miguel dos Campos (3), Murici (1), Maragogi (1) e Coruripe (1). Já os 6 casos intrauterinos foram identificados em Girau do Ponciano (1), Canapi (1), Porto Calvo (2) e Arapiraca (2).
A situação dos registros de casos de microcefalia na Região Nordeste, divulgada pelo Ministério da Saúde, coloca Alagoas na sexta posição em relação ao número de casos suspeitos. O maior quantitativo de notificações está concentrado nos estados de Pernambuco (1.153), Paraíba (476), Bahia (271), Rio Grande do Norte (154) e Sergipe (146).
Procedimento
A reportagem conversou com a médica infectologista do Hospital Helvio Auto, Mardjane Lemos. A especialista rebateu a informação, citando que, até agora, cinco casos de microcefalia foram confirmados no estado, mas ainda não se sabe as causas. Porém, ela reforçou que nenhuma suspeita foi descartada.
O procedimento, segundo Mardjane, tem início quando a Vigilância Epidemiológica entra em contato com a família e agenda o exame no HGE. Caso o resultado não confirme a má-formação, a criança segue para uma avaliação do pediatra, que vai requisitar alguns exames. Se confirmada, o bebê é levado para o neuropediatra, que fará o acompanhamento do paciente. "O acompanhamento se dá a longo prazo, com bastante cautela. Esperamos que todos as ocorrências sejam esclarecidas com a devida causa", disse Mardjane.
Ester da Silva Santos,
A anomalia
Microcefalia é uma condição neurológica rara em que o cérebro da criança é significativamente menor do que a de outras da mesma idade e sexo. A má-formação normalmente é diagnosticada no início da vida e é resultado do cérebro não crescer o suficiente durante a gestação ou após o nascimento.
Crianças com microcefalia têm problemas de desenvolvimento. Não há uma cura definitiva, mas tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e qualidade de vida.
A microcefalia pode ser causada por uma série de problemas: má-formações do sistema nervoso central, diminuição do oxigênio para o cérebro fetal, exposição a drogas, álcool e certos produtos químicos na gravidez, desnutrição grave na gestação, fenilcetonúria materna, rubéola congênita na gravidez, toxoplasmose congênita na gravidez, infecção congênita por citomegalovírus. Algumas doenças genéticas também podem causar a anomalia.
O Ministério da Saúde confirmou recentemente a relação entre o zika vírus e o surto de casos de microcefalia no Nordeste do país em 2015. A Febre Zika, ou simplesmente zika vírus, é uma infecção causada pelo vírus ZIKV, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue e da febre chikungunya.
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