*Por Gerd Baggenstoss
Vladimir Safatle escreveu na
Folha (aqui) um artigo no qual fora duramente atacado por alguns setores
culturais como formalista ou elitista. No “O fim da Música” Safatle busca
ativar uma relação entre atividade econômica e o aumento da atividade criativa
em termos culturais. O sentido da crítica no artigo é justamente o descompasso
existente no ultimo decênio entre produção cultural e ascensão econômica. A produção cultural brasileira, com honrosas
exceções não gera dinâmica, tornou-se bloqueadora, segundo ele. Um paredão
metafórico.
Noutra ponta a crítica ao
artigo entende que por mais que haja indicativos de que o padrão de som
hegemônico mobilizadores de um zeitgeist dos afetos, tais como “paredões de
som”, sertanejo e forró universitário (parceiros da máquina pública), há uma
multiplicidade de produção cultural, mesmo que deliberadamente, distante do
grande público seguindo uma inexorável fuga a simplicidade formal e a
estereotipia.
Safatle e seus críticos
provavelmente anuem que o Brasil “Como
vários outros países, foi construído a ferro, fogo e música”. (Vide artigo)
A mesma discussão encetada
acima, pode em certa medida ser disposta para o carnaval em Delmiro Gouveia com
a seguinte pergunta: Como nós chegamos a um ponto que um carnaval de rua, em
parte, reduz-se a paredões em franca disputa da maior amplitude sonora? Passada
a provocação acima, há sintomas de certa validade nos argumentos do Safatle.
Mesmo com o maior acesso ao consumo, mesmo com sensível aumento na produção
econômica na região. O engenho humano da música arrefeceu ao placebo
hiperbólico do continuísmo da consciência como mercadoria e da coisificação do
corpo.
Basta um pouco de paciência para ouvir esse tipo de contracultura que se
tornou regra nos paredões
Há salvação? Sim, certamente
as chaves para essa pergunta-eufemismo está no processo criativo dos pequenos
blocos e até nos grandes, por que não? Caldinho do Nêgo Eugênio, concentração
do Pompeu, Bacalhau, Bafo da Cana, Cordel, Blocos de Rua, tantos e tantos
outros que conseguem gerar dinâmicas sociais e poéticas que o paredão jamais conseguirá.
É sintomático o que ocorreu
de um tempo pra cá no carnaval. O bloqueio a outras estéticas gera um imobilismo
dinâmico da música que deve ser transposto com a ideia de que o público tem
direito de ter acesso a maior quantidade de criações musicais possíveis.
*Gerd Baggenstoss é Advogado e Colunista do Blog Ferreira Delmro