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Reconhecer Jerusalém como capital de Israel é declarar guerra, diz enviado palestino no Reino Unido

Foto mostra a cidade velha de Jerusalém nesta sexta-feira (6)  (Foto: Ammar Awad/ Reuters)

O principal representante da palestina no Reino Unido afirmou nesta quarta-feira (6) que os Estados Unidos reconhecerem Jerusalém como capital de Israel equivale a uma declaração de guerra contra os muçulmanos. A cidade internacional é considerada sagrada por judeus, muçulmanos e católicos.

A afirmação é feita enquanto o mundo aguarda o anúncio da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre uma mudança da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém - que é interpretada como um reconhecimento de que a cidade sagrada (ou parte dela) seria capital de Israel, o que desagrada profundamente os muçulmanos.

"Se ele disser o que está pretendendo dizer sobre Jerusalém ser a capital de Israel, isso significa um beijo da morte para a solução de dois Estados", disse Manuel Hassassian em uma entrevista de rádio da BBC. "Ele está declarando a guerra no Oriente Médio, ele está declarando guerra contra 1,5 bilhão de muçulmanos e centenas de milhões de cristãos que não vão aceitar os santuários sagrados estejam totalmente sob a hegemonia de Israel", acrescentou, de acordo com a Reuters.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, convocou para 13 de dezembro, em Istambul, uma cúpula de dirigentes de países muçulmanos para discutir a decisão norte-americana.

Face à polêmica, o governo de Israel se mantém em silêncio. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez um discurso de 21 minutos nesta quarta no qual se referiu aos estreitos laços do país com os Estados Unidos, mas não mencionou os planos americanos sobre Jerusalém.

Por outro lado, o Papa Francisco e a Organização das Nações Unidas (ONU) fizeram um apelo pelo diálogo sobre o status da cidade.

Papa, ONU

Embora não tenha citado diretamente os planos de Trump sobre Jerusalém, o Papa Francisco pediu para que se respeite o status atual da cidade. "Eu faço um apelo sincero para que todos se comprometam a respeitar o status quo da cidade, em conformidade com as pertinentes resoluções da Organização das Nações Unidas", disse.

O pontífice disse esperar que a "sabedoria e a prudência prevaleçam, para evitar adicionar novos elementos de tensão a um panorama global que já é abalado e marcado por tantos e tão cruéis conflitos", segundo a Reuters.

Já o enviado especial da ONU para o Oriente Médio, Nickolay Mladenov, defendeu nesta quarta que o futuro status de Jerusalém seja objeto de negociações. "O futuro de Jerusalém é algo que deve ser negociado com Israel e o palestinos em negociações diretas, um ao lado do outro", afirmou em entrevista coletiva em Jerusalém, segundo a France Presse.
Em imagem de 12 de abril, homens judeus participam de bençãos no muro das lamentações, em Jerusalém  (Foto: Ariel Schalit/ AP)


A administração americana já considera a decisão de mudar o endereço da embaixada como certa apesar da pressão do mundo árabe. "O presidente foi claro: não é uma questão de 'se', mas de 'quando' haverá a transferência, declarou o porta-voz Hogan Gidley.
Revolta no mundo árabe

Na terça-feira (5), Trump notificou o presidente palestino, Mahmoud Abbas, sobre "suas intenções de mover a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém". Abbas, em resposta, "alertou para as consequências perigosas que tal decisão teria no processo de paz e também para a paz, segurança e estabilidade na região e no mundo".

Inúmeros representantes do mundo árabe condenaram os planos americanos de mudar. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o status de Jerusalém é "uma linha vermelha" para os muçulmanos e ameaçou cortar relações com Israel caso os EUA reconheçam Jerusalém como capital de Israel.

A Liga Árabe advertiu os EUA contra a mudança, dizendo que além de poder acabar com as negociações de paz ela pode desencadear uma nova onda de violência.

Atualmente, como outros países, o governo americano mantém sua embaixada fora da cidade, ocupada por Israel em 1967 e também reivindicada pelos palestinos, que querem Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado. A comunidade internacional não reconhece a reivindicação israelense sobre a cidade como um todo.


Em 1995, o Congresso americano adotou o "Jerusalem Embassy Act", que pede ao executivo a transferência da embaixada. A lei é vinculante para o governo americano, mas uma cláusula permite aos presidentes adiar sua aplicação durante seis meses em virtude de "interesses de segurança nacional".

Todos os presidentes fizeram isso desde 1995 por considerarem que não era o momento para uma decisão dessa envergadura.


Apesar da revolta do mundo árabe em geral, o gesto de Trump também poderia ajudar a satisfazer a base pró-Israel de direita que o ajudou a conquistar a Casa Branca e o governo de Israel, um aliado próximo dos EUA.

Ponto nevrálgico

No conflito entre Israel e palestinos, o status diplomático de Jerusalém, cidade que abriga locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, é uma das questões mais polêmicas e ponto crucial nas negociações de paz, como explica a BBC.

Israel considera Jerusalém sua capital eterna e indivisível. Mas os palestinos reivindicam parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capital de seu futuro Estado.

A posição da maior parte da comunidade internacional, e dos Estados Unidos até então, é a de que o status de Jerusalém deve ser decidido em negociações de paz. Os países mantêm suas embaixadas em Tel Aviv, a capital comercial de Israel.


Em 1947, quando a Assembleia Geral da ONU decidiu pelo plano de partilha da Palestina entre um Estado árabe e outro judeu, Jerusalém foi designada como "corpus separatum" (corpo separado), sob controle internacional. O plano, porém, não chegou a ser implementado.

Em 1948 foi declarada a Independência do Estado de Israel e, logo em seguida, a guerra árabe-israelense. Ao final daquele conflito, Jerusalém foi dividida, com a parte ocidental sob controle de Israel e a parte oriental controlada pela Jordânia.

Em 1967, Israel capturou a parte oriental da cidade e, desde então, vem construindo assentamentos em Jerusalém Oriental. Esses assentamentos são considerados ilegais pela comunidade internacional, posição que é contestada pelo governo israelense.

"O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel seria uma mudança na política adotada pelos Estados Unidos desde a criação do plano de partilha pela Assembleia Geral da ONU", disse à BBC o especialista em Oriente Médio Fayez Hammad.

"Desde a criação do Estado de Israel no ano seguinte, os Estados Unidos nunca reconheceram a soberania de Israel em Jerusalém Ocidental ou da Jordânia em Jerusalém Oriental (até 1967)", ressalta Hammad.

G1