A
vida boa é perfeitamente inútil, disse um filósofo Alemão que me encanta, Schopenhauer.
Considerado
por todos como pessimista, Schopenhauer dirá que a vida de fato tem problemas.
“Viver
é uma roubada espetacular”. Porém, tem duas coisas que atrapalhariam: o
divertimento e o tédio.
De
forma rápida o que seria o divertimento.
Respondendo
com as palavras de outro filósofo, desta vez, o francês - Blaise Pascal, que vai
nos dizer que o divertimento é uma estratégia de sobrevivência para lidar com
um problema:
“O
ser humano é frágil, a vida é insustentável.”
Então,
divertimento é você desejar o que você não tem; de repente você consegue o que
você tem; aí você não deseja mais; e aí você passa a desejar outra coisa.
Quando
Pascal falou isso, ele estava pensando que a alma é meio vazia, que a alma
nunca está satisfeita com o que ela tem. Por isso, a gente está sempre à procura de
meios de divertimento.
O
Jornalista Clóvis de Barros, assim como os filósofos acima, nos diz que o
divertimento é uma coisa trifásica, como: querer o que não se tem; conseguir o
que se desejava antes; e buscar outra coisa que agora se deseja.
Logo,
o divertimento é marcado por um pêndulo: ou você deseja e não tem ou você tem e
não deseja mais e depois você volta a desejar o que não tem.
É
certo que alguns desses pensadores falaram isso há quase quatro séculos.
De
lá para cá a sociedade evoluiu muito nessa coisa de divertimento.
Vale
lembrar que o Pascal falou algo assim: “o futuro vai ser dominado por lazer,
barulho e juventude”.
Ou
seja, ele acertou praticamente em cheio.
Hoje
em dia, todo lugar tem que ter barulho, todo mundo tem que ficar feliz. Aliás,
não tem coisa mais chata que lugar cheio de gente super feliz, fazendo barulho,
quando você está afim de outra coisa.
A
nossa sociedade contemporânea está obcecada pela ideia de que todo mundo tem
que ser visível, daí não há nada melhor pra se tornar visível do que ficar
postando nas redes socais as bobagens que faz: a pizza que comeu o vinho que
bebeu a roupa que usou para que tenha existência de alguns segundos na vida dos
outros. Isso seria mais uma forma de “divertimento”.
Pessoalmente
ainda penso como Pascal pensava há quatro séculos. Toda essa indústria do
divertimento está a serviço de uma enorme ignorância pessoal, uma ignorância da
condição humana.
Essas
novas técnicas de divertimento acaba sendo um tiro que sai pela culatra, porque
elas funcionam muito pouco, elas duram muito pouco tempo.
E assim vamos, desejando o que não temos e
buscando a saciedade e matando desejos anteriores que promovem o surgimento de
novos desejos.
Como
bem disse Barros: “a lógica do divertimento é a lógica do saco sem fundo, é a
logica da saciedade impossível, é a logica de que invariavelmente estarão
faltando coisas e você estará buscando invariavelmente aquilo que te faz falta”.
Passemos
para o segundo problema da vida: o tédio. Ele seria caracterizado por uma rede
de utilidades.
Você
sempre ouviu a palavra útil, eu, por exemplo, muitas vezes fui chamada de
inútil.
O
útil é sempre entendido como algo bom
O
inútil como uma coisa ruim.
No
entanto, perceba que quando uma coisa é útil o seu valor está fora dela. O
colírio é útil porque limpa os olhos, o veiculo é bom porque permite o
deslocamento para onde você não está.
Tudo
que é útil tem seu valor fora. O primário é útil para chegar ao ensino
fundamental. O valor do primário está no ensino fundamental o valor do ensino
fundamental está no ensino médio o valor do ensino médio está na faculdade o
valor da faculdade está no emprego.
E
assim você percebe que toda a utilidade faz com que o valor das coisas esteja
fora dela.
Então,
se algum dia, assim como eu, for chamado de inútil, não fique tão triste, ao
nos chamarem de inútil, estão querendo nos dizer que, nesse caso, raríssimo no
mundo de hoje, o nosso valor está em nós mesmos. Tanto quanto a felicidade, que
por definição é inútil, ou você teria resposta pra pergunta, ser feliz pra quê?
A
felicidade é perfeitamente inútil.
A
vida boa é perfeitamente inútil
Porque
ela vale por ela mesma.
Assim
sendo, quanto mais na nossa vida encontrarmos coisas que têm seu valor em si
mesma e, assim sejam inúteis, a chance
de vivermos melhor, aumenta.
* Anicéia Ribeiro é Colunista do Blog Ferreira Delmiro
Formanda em Letras pela Universidade Federal de Alagoas
Professora por formação
Empreendedora por paixão.
Uma amante das palavras