BIMBA DE BODE: "Riacho Beberibe"

*Por Luciano Aguiar
O dia amanheceu furta-cor e faminto de sol. Os ”escravos” da palha da cana vinham à passos largos, pelos corredores, entre cancelas dos sítios de Ipituba de Dentro. Não gostavam da bagunça do “resto de feira”. Seu Euclides, cidadão mais antigo da cidade, beirando os 100 anos, vinha montado no jumento puxado pelos tataranetos de bisnetos de netas, que não conheceram a imensidão do mar. 

Ao entrarem no parque dos cavalos, o ancião, refém dos sentidos, arregalou os olhos e girou a cabeça em graus infinitos, tateando com as conchas auditivas uma agonia sobre humana e desesperadora, no local de embarque e desembarque dos feirantes, às margens do Riacho Beberibe.

Cabresto solto, o animal foi em direção ao local de costume. Os descendentes de seu Euclides, curiosos e impacientes, esbarram de ouvido com o murmúrio intermitente e repetitivo: “se vomitar, perde”. 

Ao defrontar-se com o absurdo, Euclides lamentou a decadência humana, ao vê um homem de meia idade, com os braços arriados feito urubu na estaca em dia de sol no inverno, comendo a nonagésima banana, com casca e tudo, ajudado pela mão de pilão de soca tempero.

Ruminando o acontecido no caminho de volta, seu Euclides resmungava o feito para tropa e esclarecia os motivos de tamanha façanha humana...“Custava acreditar que uma aposta política, entre correntes subservientes e dependentes entre si dos cofres públicos, levariam o homo sapiens a tamanha humilhação”. Quando não se tem com o que pagar na política, tudo vale em troca, desde que a honra humana seja esfarrapada.

Segue nós.. 


*Luciano Aguiar é Colunista do Blog Ferreira Delmiro