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USP de Ribeirão Preto testa antioxidantes no combate a doença que causa infertilidade em mulheres


Pesquisa da USP testa antioxidantes contra endometriose, doença que causa intertilidade nas mulheres  (Foto: Reprodução/EPTV)


Uma pesquisa da faculdade de medicina da USP de Ribeirão Preto (SP) descobriu que dois antioxidantes presentes em suplementos alimentares têm potencial de combater a endometriose, doença que não tem cura e causa infertilidade em mulheres.

A conclusão foi obtida depois que Vanessa Silvestre Innocenti Giorgi, em um estudo de doutorado no setor de reprodução humana da universidade, associou a doença a um "estresse oxidativo" que prejudica o desenvolvimento dos óvulos.

A partir de então, ela testou a utilização da N-aceltilcisteína e da L-carnitina - também conhecida como vitamina B11, produzida pelo organismo humano e encontrada em alimentos como carnes, laticínios e vegetais - nas células afetadas pela doença.

As substâncias ainda estão em fase de testes, mas as primeiras conclusões foram publicadas na revista norte-americana Reproductive Science e obtiveram quatro premiações, dentre elas um incentivo financeiro do Congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, de Baltimore, nos Estados Unidos.

Vanessa agora quer intensificar os estudos aplicando as substâncias em pacientes que tenham se submetido a cirurgias contra a endometriose.

"Após um tempo dessa cirurgia, elas sejam tratadas com um desses antioxidantes para que a fertilidade natural dela seja melhorada, para que elas não tenham que procurar auxílio na reprodução assistida", diz.

A endometriose

Com causas ainda não completamente esclarecidas, a endometriose é uma doença ginecológica crônicas que afeta em torno de 10% das mulheres em fase reprodutiva, ou seja, desde o início da menstruação até a menopausa, segundo dados da USP, e provoca de cólicas intensas a infertilidade - em 70% dos casos.

A disfunção consiste de um processo denominado "menstruação retrógrada", em que as células internas do útero - do endométrio - acabam lançadas com o sangramento menstrual para a cavidade abdominal e acabam se desenvolvendo em locais como a bexiga e o intestino.

De acordo com os pesquisadores, a endometriose afeta em torno de 90% das mulheres, mas nem todas a desenvolvem.

Vanessa Silvestre Innocenti Giorgi, responsável pela pesquisa sobre endometriose na USP em Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)

"A teoria mais aceita é que o sangramento menstrual não so exterioriza pela vagina. Ele cai pra dentro do abdômen pelas trompas e encontra condição genética, imunológica, que facilita que se implante e continue a se desenvolver, daí esses sintomas todos", explica a ginecologista Rosana Reis.

O tratamento disponível hoje é a cirurgia complementada com um tratamento clínico para que a paciente não menstrue, mas não há cura definitiva, explica Rosana.

"Você deixa a doença em estado de repouso. Infelizmente é isso, não é como uma doença bacteriana que você usa um antibiótico."

Há três anos, a jornalista Carolina Barbosa Alves Vicente descobriu que tinha a doença depois de sofrer constantes e intensas cólicas. Descoberta que a levou a se submeter a uma cirurgia à retirada do ovário esquerdo.

Passado o susto, ela deixou de sentir as dores de antes e conseguiu ter uma filha, hoje com dez meses, um ano depois do procedimento. Mas o tratamento com medicamento precisa ser constante para evitar que a endometriose volte a se manifestar.

"Eu engravidei, foi uma coisa boa, mas pelo resto da vida preciso tomar o anticoncepcional. Tem que fazer o tratamento com hormônio, porque se eu parar pode ser que ela volte."

Laboratório de Reprodução Humana da USP de Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)

A pesquisa

No estudo, Vanessa constatou que os óvulos bovinos utilizados no laboratório - similares aos humanos - apresentaram uma piora em seu desenvolvimento ao entrarem em contato com o líquido folicular de mulheres inférteis, ou seja, a mistura do plasma sanguíneo com a secreção das células do ovário delas.

Na sequência, ela testou a utilização dos dois antioxidantes, que se mostraram eficazes na prevenção dos danos causados pela endometriose. Das duas substâncias, a L-carnitina foi a que se mostrou com mais chances de combater a infertilidade.

O estudo ainda não chegou à fase de testes clínicos, mas Vanessa acredita que esse tipo de tratamento pode se tornar uma alternativa para mulheres que querem engravidar, mas não conseguem por causa da doença.

"Todos nós conhecemos uma mulher que tenha problema com endometriose. Além da infertilidade essas mulheres podem ter dor, destruindo a qualidade de vida delas. Pesquisas devem ser conduzidas para que isso melhore, para que melhore a qualidade de vida e que elas tenham uma perspectiva melhor de um futuro reprodutivo", afirma.


G1