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Não Chore. Você já fez tudo que pôde...



Gostaria de bater nas cento e setenta mil portas, adentrar nos lares de todo Brasil, para ajudar a mitigar a dor de milhões de pessoas pela perca de entes queridos nessa pandemia.

Foram perdas abruptas, separações cruéis, que ocorreram atípica e apressadamente num cenário frio, tenso e incerto das frentes dos hospitais, onde ocorreram o último adeus.

Uma internação solitária, sem acompanhamento, sem uma conversa, sem um carinho, sem as últimas revelações de sentimentos mais profundos...

E o que é pior, depois de tudo consumado não poder prestar ao falecido uma última homenagem: um sepultamento digno. Isso transforma a dor cruel em dilacerante, essa que extrapola todas as fronteiras e se espalha mundo afora.

Com esse fim, busco aqui D. Helder Câmara, que no final dos anos 70 era nosso palestrante, nas reuniões pela redemocratização do Brasil que ocorria na Ilha de Kos, espaço da Sociedade de Medicina de Pernambuco em Recife. 

Certa vez, o Arcebispo do Recife e Olinda nos contou que quando se ordenou padre, assumiu uma pequena paróquia no interior do Ceará, certo dia cuidava das plantas no jardim quando chegou um chamado urgente, numa fazenda próxima uma mulher necessitava de uma extrema unção, de pronto o padre selou o cavalo e partiu.

Chegando ao destino, encontrou uma casinha de taipa, três pessoas sentadas no alpendre, na pequena sala de barro batido jazia sobre uma esteira um corpo e a seu lado, ajoelhado uma mulher em pratos abanava as moscas.

Após algumas orações, o jovem padre perguntou a mulher, porque choras tanto? 

- Padre, estou amargurada pois nada pude e nada posso fazer por minha comadre!

- Tudo que você pode fazer por sua comadre é abanar as moscas? 

- Sim Padre, é só o que posso fazer.

- Então senhora, não sofra, não chore. Você já fez tudo que pôde!


Eliseu Gomes

Cânions do São Francisco

Delmiro Gouveia-AL

02/12/2020


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